10 de dezembro de 2007

Filha da Fortuna

Eliza sentia o cheiro dele a sabão e suor, mas não se atrevia a aproximar dele o nariz, como desejava. Os únicos sons da ermida eram o sussurro do vento e da respiração agitada de ambos. Passados poucos minutos ela anunciou que tinha de voltar para casa, antes que se apercebessem da sua ausência, e despediram-se apertando as mãos. Assim se encontrariam nas quartas-feiras seguintes, sempre a horas diferentes e por pequenos intervalos. Em cada um desses alvoroçados encontros avançavam a passos de gigante nos delírios e tormentos de amor. Apressados, contaram um ao outro o indispensável, porque as palavras pareciam um perda de tempo, e depressa deram as mãos e continuaram a falar, os corpos cada vez mais próximos à medida que as almas se aproximavam, até que na noite da quinta quarta-feira se beijaram nos lábios, primeiro tacteando, depois explorando e finalmente perdendo-se no deleite até soltarem por completo o fervor que os consumia.
Isabel Allende