29 de setembro de 2009

Avó Aura

Lembro-me dos seus olhos, azuis, quando já via mal, e tinha que fixar o olhar durante algum tempo para me reconhecer. Depois sorria.
Foi preciso crescer e perceber o que nos unia. Talvez tenha sido preciso desapareceres para perceber que não são as palavras a unir corações. Nunca falamos muito, porque eu era silenciosa, e ela esforçava-se por me ler as expressões.
Perguntava-me..."Estás triste?"
Sempre lhe respondi que não. E eu sei que me observava sem que eu percebesse.
E percebia, porque foi ela que me fez nascer. Foi ela que me tirou e me apresentou à vida!

As minhas expressões são parecidas com as dela, e pelo que dizem, algum do feitio também.
Gosto de a recordar e pensar que gosta do que eu sou. Mesmo que não tenhamos falado o suficiente, sei que também sou um bocadinho do que me ensinaste.
Gosto da certeza que tenho, de que ela sentiria orgulho de mim.

A vida não deveria ser assim. Deverias ter-me visto crescer um bocadinho mais. De me ter visto acabar o curso, e de me ter visto casar. Devias ter pegado o Tiago ao colo.
E isso teria sido tão bom, porque terias partilhado tantos momentos felizes da tua família...
...Mas também terias visto o meu irmão adoecer, e terias visto desaparecer um bocadinho de nós todos.

Mas sinto-te protectora de mim.

Recordo-te sempre neste dia. Hoje que fazias anos. Nunca me lembro do dia em que morreste. Acho que isso é bom, porque é sinal que te deixei ir.
Tenho saudades de todos nós. Tenho saudades de correr com os meus primos naquele corredor comprido. Tenho saudades.
Lembro-me sempre de ti viva.

8 comentários:

Unknown disse...

Eu ainda não a deixei ir...talvez egoísmo e pensar que sería um pouco mais feliz com ela aqui.

Unknown disse...

Sem dúvida! A vida é cruel em levar-nos pessoas que amamos tão cedo. Mas é mais fácil para nós deixa-los ir. Acho que a pessoa que ainda não consegui deixar ir foi a minha prima, porque foi-nos tirada! A minha avó viveu a vida que quis e acho que foi feliz. E isso torna tudo mais fácil!

Anónimo disse...

Gostava mt de ser como tu. Pensar como tu. Sou tão mais "pequena" na forma como penso. Admiro-te mto, sabes disso.
Adoro-te minha querida.

Iolanda.

Maria disse...

Perder aqueles que nos são queridos é muito difícil, muito mesmo, nas quem disse que a vida era justa!!!
Eu lembro-me todos os dias da minha mãe..todos!!!
Mas deixei-a partir, foi difícil mas não tinha alternativa...
Pensei que ela, onde quer que esteja tinha o "direito" de ter paz!!
Sei que está presente todos os dias, zela por mim e pelos meus filhos e sempre pelo meu pai e também por todos aqueles que ela amava...
Olho para o céu, e de tantas vezes dizer aos meus filhos que ela brilha lá no céu fez com que essa memória faça parte do meu subconsciênte...
Deixa-a partir...ela deverá concerteza querer "vive" o que não pode aqui...
Sente-a, ama-a, recorda-a mas deixa-a partir...ela nunca te vai deixar...porque brilha em ti e nos teus!!!

Unknown disse...

Já deixei! Com 16 anos encara-se a vida de outra forma. Questiona-se tudo...Mas com 34, percebemos que o importante é não esquecer.Sinto falta dela. Mas sei que me dá sinais. Já a deixei ir.

Unknown disse...

Minha miga...Como é possível dizeres uma coisa dessas! Eu sou de uma maneira e tu de outra e isso permite-nos sermos as amigas que somos, não é?
És muito bonita querida e tu sabes disso!!!....
Beijo

Ana Carina Dias disse...

Fazes-me sempre chorar...também gostava de a ter conhecido* foi uma Grande Mulher, Mãe, Parteira e Avó. Os olhos do teu tio Fernando enchem-se de orgulho quando fala dela. Através das fotografias podem-se encontrar muitas parecenças entre vocês as duas :)
Beijo grande

Unknown disse...

Ela teria gostado de ti, Ana! Porque apesar de ela não ser uma mulher muito meiga, era das qualidades que mais gostava de sentir em alguém, e tu és um doce. A vida leva-nos as pessoas de quem gostamos cedo de mais!Mas ela construiu a sua vida, teve filhos, envelheceu e viu os netos nascerem. Viveu. Por isso, consigo aceitar o facto de ela nos ter deixado. Mas as saudades e a vontade que ela estivesse aqui, nunca passaram...
Beijos Ana, para a Bea e para o Bruno!